Por: Laura A. Nhaueleque
O clima de medo, pânico e desconfiança reina nas escolas iranianas devido às suspeitas de uma acção de envenenamento de estudantes. Esta acção de ataque directo à mulher começou em Novembro de 2022 na cidade sagrada de Qom, no entanto, as autoridades locais preferiram encobertar o crime. Desde Novembro para cá, os criminosos incrementaram a sua acção quase em todas as cidades do país.
No início (dia 3) de Março, o crime veio ao público depois de se terem registadas cerca de 1000 alunas envenenadas nas escolas de quase todas as cidades do território, incluindo a capital Teerã. Alguns pais e encarregados de educação, testemunharam que quando chegaram numa das escolas onde terá acontecido o crime, sentiram um cheio forte como que de gás lacrimogéneo.
Um pouco de alívio deriva do fato de que o veneno ainda não fez óbitos, porém, existem meninas internadas em hospitais e todas as vítimas precisaram de uma assistência médica. Este ataque criminoso de envenenamento passa de suspeita para certeza, devido aos sintomas comuns apresentados pelas vítimas, tais como dificuldades respiratórias, vómitos, imobilidade nos membros inferiores e sensação de queimadura.
Hipoteticamente, os envenenamentos podem vir a ser acção dos “grupos religiosos militantes”, descontentes com as reivindicações e luta pelos direitos das mulheres. Younes Panahi, vice-ministro da saúde do país, reforça esta hipótese ao afirmar que os agressores têm intenções de paralisar a educação no país, sobretudo as escolas femininas. Ainda nesta linha se situa Mohammad Ali Abtahi, antigo vice-presidente reformista que comparou os criminosos locais com o grupo de Boko Haram, militante islâmico nigeriano que se opõe à educação feminina.
Só para recordarmos, as reivindicações, as manifestações de rua, a agitação, o pânico, a desordem social e até às mortes caracterizaram o ambiente que se viveu no Irão desde os meados de Setembro de 2022 e nos meses subsequentes. Este ambiente começou quando MahsaAmini, uma jovem de 22 anos encontrou a morte nas mãos da polícia local sub alegação de ela ter transgredido a lei de “veste obrigatória”, ao sair à rua sem o “bendito”hijab (véu). As manifestações no Irão provocaram, segundo os dados da Amnistia Internacional, cerca de 300 mortes, dentre elas 44 crianças, sem contar com outros tipos de violações de direitos humanos entre as quais, prisões arbitrárias e torturas.
No entanto, se olharmos para os contornos subsequentes à morte de MahsaAminié forçoso concluir que, esta perda da jovem foi como que uma “gota de água” junto ao mundo feminino do país, que “explodiu” de forma irrepreensível – juntamente com os seus apoiantes – em manifestações de rua, reivindicações e duras críticas ao regime conservador. Além do mais, estas manifestações femininas podem ser lidas como um grito de “chega com as imposições religiosas” que pesam sobre este grupo social, e talvez, é chegada a hora de substituir a teocracia no país por um sistema secular de tipo democrático.
É verdade que as manifestações cessaram no país, no entanto, o regime continua aplicando as duras leis às pessoas consideradas transgressoras ou de algum modo, culpadas. Só para exemplificar, em janeiro do decorrente ano, MajidrezaRahnavard, uma jovem de 23 anos, identificada como uma das integrantes das recentes manifestantes no Irão foi culpabilizada pela morte de dois agentes da força de segurança. A justiça local pronunciou a pena capital por enforcamento, como punição da inocente MajidrezaRahnavard.
Porém, antes de enfrentar a morte, a MajidrezaRahnavard foi apresentada na televisão pública local, com os olhos vendados. Uma apresentação que pode ser lida como uma forma de intimidar e incitar o medo nas pessoas, sobretudo naqueles que desafiam as normas do regime, por um lado, por outro, é uma forma mais cruel e fria de humilhar e denegrir a imagem da mulher no Irão e em todo mundo na pessoa da jovem MajidrezaRahnavard.
Portanto, fazendo uma leitura dos fatos, é possível ligar os actuais crimes de envenenamentos com as passadas reivindicações femininas no país. Esta pode ser uma resposta reactiva do grupo pro-regime, atentar directamente contra a vida da mulher no país. Por que atacar sobretudo as escolas femininas? Talvez porque 1. trata-se de mulheres, o grupo social que está a lutar pelos seus direitos; 2. as escolas foram uma das instituições muito ativas e que exigiu, com duras críticas, a mudança do regime político em vigor. Como se sabe, todos os sistemas ditatoriais usam as mesmas armas para o controlo social, impor o respeito e promover a popularidade entre a população. Umas dessas armas podemos citar a intimidação e incitação ao medo através de práticas hediondas como torturas físicas e psicológicas até as execuções públicas, tal como sucedeu com a MahsaAmini e, nos últimos dias, com aMajidrezaRahnavard.