Nova composição da Comissão Política da Frelimo significa reflexo da hormonia entre o Presidente Nyusi e o núcleo duro dos históricos da Frelimo
Por: João Bruno de Morais
“Voltar ao princípio”
Quando vemos o Presidente Nyusi no balanço da visita que efectuou a República Argelina Democrática e Popular afirmando que vai receber apoio de cooperação no sector de segurança pública sobretudo no campo do combate ao terrorismo devido a experiência que os argelinos acumularam pois já passaram por instabilidades devido a acções terroristas e conseguiram controlar a situação, isso é um forte sinal de que a Frelimo está muito concentrada!
Note-se que antes do início da Luta de Libertação Nacional (25 de Setembro de 1964), foi a Argélia que acolheu em 1963 três grupos para receberem treino de guerrilha de forma a criar uma força militar. O primeiro grupo foi chefiado por Filipe Samuel Magaia, o segundo por Samora Machel e o terceiro por António Silva.
Coincidência ou não, o certo é que está visita do Presidente Nyusi a um dos maiores produtores de gás natural, que possui a quinta maior reserva de gás natural do mundo e é o segundo maior exportador de gás e ainda o 14° país com maiores reservas de petróleo constitui um simbolismo político deveras saliente.
Amostra que os canais históricos e diplomáticos que os veteranos da primeira linha do Centralismo Democrático ainda funcionam. Voltar ao princípio, isto é, voltar às origens neste momento de altas incertezas políticas, para a sobrevivência da própria Frelimo é a única saída.
Candidaturas a presidência da República
Foi numa declaração, diga-se de passagem, ímpar, feita pelo Secretário geral da Frelimo, no distrito de Mocuba, província da Zambézia e que foi transmitida pela televisão estatal – ” ninguém tem que começar agora a preparar-se para ser candidato. Essa coisa de ser candidato, você não pode ser voluntário. Espera aí, os outros é que vão dizer que você dá para candidato. Ninguém deve ser voluntário. Eu quero…eu quero, quem disse que você deve querer? Nós é que devemos querer você… não é você dizer que eu quero”.
Ora Roque Silva na filosofia política processada pela Frelimo tem razão. O pragmatismo é que conta, o improviso nessa situação de candidatos à presidência da República não funciona.
O problema é que Roque Silva não soube explicar com clareza política e ideológica, diplomacia esse vital princípio político.
De facto, o voluntarismo na Frelimo é uma prática “natural”. Afinal de contas quem pode-nos dizer por exemplo, se Eduardo Mondlane, Urias Simango, Filipe Samuel Magaia, Marcelino dos Santos, Samora Machel, etc…etc… foram voluntários ou foram escolhidos para combaterem o sistema colonial português?
Nós entendemos sim, que houve uma voluntariedade e, mobilização na altura, para que jovens com sentido nacionalista e patriotismo se juntassem incondicional a Frelimo.
No entanto isso não significava que bastasse ser voluntário para que fosse aceite sem nenhuma “vigilância”. Foi assim que os camaradas criaram um “mecanismo de segurança” quase que natural para monitorizar os “excessos do voluntariado”. Depois dentro desse contexto de voluntariado não existia o camarada do norte, do centro ou do sul, o camarada de gema, o académico, o intelectual, etc…etc…
A força ideológica – “libertar a terra e o homem” – estava em primeiro lugar. O que contava para os camaradas era o mútuo conhecimento e as capacidades de cada um.
Por exemplo, os Generais Matsinha e Chipande foram “escolhidos” para liderar a formação das futuras Forças de Defesa e Segurança na Zâmbia e, isso não teve a ver com a naturalidade deles. O que contava era a tarefa incumbida.
Quando a Frelimo num momento de crise enviou para o interior de Cabo Delgado, dois dos seus quadros seniores, Jorge Rebelo e Cândido Mondlane, em 1966, onde realizaram uma reunião em Nambwavila Chilume, com os chairmen’s e os militares, com o objetivo de tentar desbloquear a situação prevalecente de desconfiança mútua naquela frente, não se observou qual era a origem étnica de ambos.
Teve-se em conta as suas capacidades e competências.
Observou-se aquilo que o histórico da primeira linha do Centralismo Democrático afirmou afirmou no seu livro – (…)… nas diferentes etapas do nosso desenvolvimento a Frelimo soube escolher os seus dirigentes. Acredito que as qualidades de cada um eram equacionadas em relação aos objetivos do momento. Em face disso decidia-se. Todos os escolhidos foram e são visionários a sua maneira e no âmbito do conhecimento da situação no terreno o que permitiu e permite agir com sensatez necessária. Umas vezes deixando se levar pelas dinâmicas transformadoras e geradoras de um novo vigor e outras antecipando-se aos acontecimentos. Para dizer que os seus aspectos visionários manifestava-se na hora de interpretar os sinais, muitas vezes, ténues das modificações em curso ou vindouras na nossa sociedade” – Um Homem, mil exemplos. A vida e a Luta de Mariano de Araújo Matsinha, Zito Sampaio, pág. 83, Plural Editores, 2012.
Talvez essas palavras do General Matsinha ajudem os candidatos e camaradas a perceberem o que Roque Silva quis dizer. O que podemos acrescentar é que o Secretário geral da Frelimo informou e o General Matsinha comunicou.
Informar é dar, comunicar é fazer-se entender
Significado da nova configuração da Comissão Política
Queremos dizer que depois de alguns sectores da Frelimo terem criticado os métodos que se estavam a utilizar para os camaradas manterem-se no poder (últimas eleições autárquicas) era previsível que se tomasse algumas medidas relativamente a procedimentos políticos. Um deles, sem dúvidas é o assunto dos candidatos à presidência da República.
A ilustração de que uma harmonização entre o Presidente Nyusi e o núcleo duro dos históricos está na nova configuração da Comissão Política. Uns nas novas posições foram colocados numa espécie de “prisão domiciliária”, outros foram potenciados e outros somente acrescentam a coreografia da sucessão.
Neste contexto temos certeza que já se debateu o perfil do candidato tendo em conta a capacidade com que o mesmo e sua equipa terão que fazer para manter o legado do núcleo duro dos históricos da Frelimo como por exemplo, princípios como o sistema de liderança colegial sustentado pelo Centralismo Democrático que evita desvarios de quem está no leme da Frelimo e garante mobilidade e sustentabilidade política.
A capacidade com que o sucessor e sua equipa terão que fazer para manter a Frelimo no poder.
A capacidade com que o sucessor e sua equipa terão que fazer para realizar reformas na Frelimo, nas FDS, combater o terrorismo, o crime organizado, a corrupção e todos os males sociais.
A capacidade com que o sucessor e sua equipa terão que fazer para primeiro distinguir a “Unidade Nacional” na Frelimo e a “Unidade Nacional” no país pois os camaradas sempre confundiram ‘Unidade Nacional” na Frelimo com “Unidade Nacional” do país.
A capacidade com que o sucessor e sua equipa terão para revisar a Constituição da República para adequar o Estado as novas realizações sociopolíticas e económicas e perpetuar a paz.
Terminamos dizendo que quando determinados históricos ficam em silêncio é porque a situação está completamente controlada e o candidato já está identificado.
Relativamente a sucessão na Frelimo nunca existiram surpresas!…